Pesquisadores da Matemática e da Computação são destaque no Prêmio Capes de Tese
A UFMS teve duas pesquisas reconhecidas na edição de 2025 do Prêmio Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) de Tese. A premiação reconhece os melhores trabalhos de conclusão de doutorado defendidos em programas de pós-graduação do Brasil. Neste ano, mais de 1,5 mil pesquisadores se inscreveram e, destes, 49 foram premiados. O resultado final pode ser consultado neste link.
Dentre os trabalhos da Universidade está a tese defendida por Vivian Nantes Muniz Franco, no Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática (PPGEduMat), que foi premiada na área de Ensino; e a tese defendida por Brivaldo Alves da Silva Júnior, no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação (PPGCC), que recebeu menção honrosa. A avaliação considera a originalidade, relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social, metodologia utilizada, qualidade da redação, organização do texto e qualidade e quantidade de publicações decorrentes da tese. A solenidade de entrega da premiação ocorre em dezembro.
Os autores das teses selecionadas receberão bolsa de até um ano para estágio pós-doutoral em instituição nacional, certificado e medalha. Seu orientador ganhará um prêmio no valor de até R$ 3 mil, além de certificado, que também será oferecido aos co-orientadores e ao programa de pós-graduação no qual o trabalho foi defendido. Os melhores trabalhos ainda concorrem ao Grande Prêmio Capes, concedido no fim do ano.
Educação Matemática
Vivian, professora da rede estadual de ensino, é egressa do curso de Matemática e também fez o Mestrado em Educação Matemática, vinculados ao Instituto de Matemática (Inma) da UFMS. “No mestrado, trabalhamos com a produção de narrativas com crianças e vimos como elas subverteram nossa metodologia, perspectivas teóricas e modos de pesquisar. Foi um movimento potente, mas em um tempo mais curto, que deixou a vontade de aprofundar esse estar com as crianças. No doutorado, queríamos compartilhar de seus tempos e gestos, sem tantas pretensões, permitindo-nos reparar, espantar e aprender com elas. A pesquisa nasceu desse desejo de encontro, mas também do incômodo com os silenciamentos que a escola, muitas vezes, impõe às infâncias, e da necessidade de pensar metodologias que respeitem seus modos de viver e inventar matemáticas. A pandemia atravessou esse percurso e exigiu reinvenções, em encontros mediados por telas, em um esforço de não perder de vista essa presença com as crianças”, lembra.
Com o título Tem cabimento? Infâncias, matemáticas e vidas na “dipiandenia”, o objetivo principal da tese, orientada pela professora do Inma Luzia Souza, foi problematizar os processos de escolarização matemática a partir de encontros investigativos com crianças do 1º ano do Ensino Fundamental, em uma escola pública durante o ensino remoto. “Por meio de uma escrita difrativa que compõe com narrativas, registros e gestos infantes, buscou-se tensionar noções de infância e práticas escolares, interrogando que modos de ser e aprender cabem na escola e como as crianças propõem outros possíveis à educação”, conta.
Ela participou de uma seleção interna no PPGEduMat por indicação da banca de defesa da tese, pela qualidade do trabalho. “A nossa foi escolhida para representar o PPGEduMat no Prêmio Capes de Tese, o que já foi um momento de grande alegria e reconhecimento. Depois disso, não acompanhei de perto as etapas seguintes. Por isso, receber a notícia da premiação nacional foi ainda mais surpreendente e inesperado”, revela.
A orientadora Luzia conta que a notícia foi recebida com muita alegria e gratidão. “A tese busca fraturar um modo de se pensar o processo de escolarização matemática em que as crianças tendem a ter suas vozes silenciadas (o que engloba a ausência de uma escuta atenta) quanto às relações produzidas no processo de aprendizagem a partir de suas experiências de vida. Ao pautar um debate sobre injustiça epistêmica, a tese afirma a urgência do ‘cabimento’ de vida, afetos e suas narrativas na construção conjunta da matemática não como um conjunto de objetos, mas como um conjunto de relações”, acrescenta a docente.
“Foram 12 anos de percurso na UFMS: ingressei na Licenciatura em Matemática em 2012, iniciei o mestrado em 2017 e o doutorado em 2019. A UFMS, o Inma e o PPGEduUMat foram para mim espaços fundamentais de formação, pesquisa e amizade, onde se teceram saberes e bons encontros. Receber o Prêmio Capes de Tese é também uma forma de expressar gratidão e reconhecimento a essa trajetória, construída coletivamente em cada etapa do caminho”, avalia Vivian.
Sobre as expectativas em relação ao trabalho, ela diz que são simples. “Espero que a tese siga promovendo encontros e ressoando em diferentes contextos. No momento, atuo na Educação Básica e percebo como a pesquisa reverbera na minha prática, nos modos de escutar as crianças e de pensar o ensino da matemática. Mais do que projetar grandes resultados, espero que ela continue abrindo espaços de conversa e invenção junto a professores, escolas e grupos de pesquisa, inspirando gestos mais justos e sensíveis na educação”, comenta.
“Uma tese do nosso Programa vencer o Prêmio Capes de Tese da área de Ensino, explicita todo um movimento de empenho, esforços, pesquisas e realizações tanto o PPG como do Instituto de Matemática e da UFMS. Vivian Franco, nossa egressa, junto com Luzia Souza, sua orientadora, produziram um trabalho potente entre sutilezas, sensibilidades, determinações e ousadias. Vivian, desde seu primeiro ano na Licenciatura em Matemática, mestrado e doutorado, em travessias com pesquisas e parcerias com Luzia, consagra um trabalho de quase 20 anos do PPGEduMat, como um programa de excelência na produção de pesquisa e na formação de pesquisadores. Pela primeira vez na área de Ensino, este prêmio vem para a Região Centro-Oeste, Mato Grosso do Sul e, para nossa felicidade, é da UFMS. Parabéns à Vivian e Luzia. Duas mulheres, mães e vencedoras”, comemorou o coordenador do programa, João Viola.
Computação
A tese de doutorado de Brivaldo Alves da Silva Junior, intitulada Automatic Inference of BGP Community Semantics, foi reconhecida com menção honrosa pela Capes. “[O trabalho] traz avanços inéditos para o entendimento das chamadas comunidades Border Gateway Protocol (BGP), etiquetas usadas por operadoras de rede para definir políticas de tráfego na Internet. Apesar de sua importância para a engenharia de tráfego, a ausência de documentação padronizada de comunidades BGP dificulta seu uso e compreensão”, comentou o orientador Ronaldo Alves.
Segundo o professor, a tese desenvolveu técnicas inovadoras capazes de inferir automaticamente o significado dessas comunidades a partir de dados públicos coletados na própria Internet. “Os resultados da tese permitem documentar dinamicamente práticas de roteamento, aumentando a transparência e a segurança na operação de redes que formam a Internet. Além disso, os métodos criados podem ser aplicados em escala global, beneficiando tanto a comunidade científica quanto profissionais que trabalham na gestão de infraestrutura crítica”.
O docente lembra também que o trabalho foi escolhido como a melhor tese da área de Redes de Computadores no Simpósio Brasileiro de Redes de Computadores e Sistemas Distribuídos (SBRC 2025), o mais tradicional evento científico da área no país (confira matéria aqui). “A menção honrosa no Prêmio Capes de Tese reforça a excelência da pesquisa desenvolvida no PPGCC e consolida a Universidade como referência nacional em estudos sobre internet e redes de computadores”, destaca.
Para o coordenador do PPGCC, Awdren Fontão essa é uma conquista importante. “É uma menção honrosa de um prêmio muito importante, uma lauda científica nacional sobre o trabalho do Brivaldo. Isso demonstra a qualidade do que a gente entrega, enquanto instituição, enquanto PPGCC, a qualidade de formação também dos nossos doutores, tendo em vista que somos um programa de doutorado recente em relação aos demais. Gostaria de parabenizar publicamente tanto o professor Ronaldo pela orientação, inclusive ele já foi coordenador do programa, quanto o Brivaldo. Essa é uma conquista especificamente durante a formação dele e demonstra muito que a sua jornada como doutor não é só o dia a dia isolado, mas é o trabalho que impacta realmente a sociedade”.
“Receber menção honrosa no prêmio Capes e também o prêmio de melhor tese no SBRC ambos em 2025, é o resultado de anos de dedicação e do impacto positivo dos trabalhos do PPGCC da UFMS, tanto para a ciência quanto para a sociedade”, finalizou Brivaldo, que é egresso da graduação em Ciência da Computação, fez mestrado na mesma área na UFMS e atua como professor da Faculdade de Computação desde 2013.
Texto: Vanessa Amin (Agecom), com informações da Capes

